Por que Redação?
Por que Redação?
A inclusão obrigatória de uma Prova de Redação nos exames vestibulares no Brasil se deu em fevereiro de 1977 a partir de um Decreto-Lei. Jornais e revistas passaram a acusar a maneira insatisfatória como a Língua Portuguesa era ensinada nas escolas e, também, a forma como os vestibulares selecionavam candidatos, através exclusivamente de questões de múltipla escolha. Era dito, com ironia, que as provas de seleção testavam apenas a capacidade de os estudantes “fazerem cruzinhas”.
É claro que essa ironia não é totalmente verdadeira, mas faz pensar. Nos faz pensar que a capacidade de expressão escrita dos jovens não estava sendo valorizada na entrada em uma universidade e nos faz pensar que aos jovens e outros candidatos só era solicitado que repetissem conteúdos. Sabemos que estudar as diversas áreas do conhecimento pode ser uma prática essencial para o nosso desenvolvimento, no entanto quando estamos diante de uma folha em branco que nos convida a sermos autores e autoras, temos a possibilidade da autonomia, temos a possibilidade de demonstrar a forma como nos posicionamos diante da realidade.
Nesse sentido, é preciso, para fazer uma Redação Nota 1.000, pensar além de uma caixa bem específica. Qual caixa? Aquela caixa que nos faz estudar apenas para um fim unicamente objetivo: tirar uma nota alta em uma prova, passar no Vestibular ou no ENEM, ganhar o diploma em uma Universidade, buscar um salário alto. Quando pensamos dessa forma, em geral, estamos apenas dispostos a decorar um determinado conteúdo que será repetido em uma prova, no entanto não aplicamos esse conhecimento em nossas vidas, não agimos a partir dele, não nos interessamos de fato por ele a ponto de usá-lo para ter uma postura diferente no mundo em que vivemos, a ponto de nos posicionarmos ativamente diante da realidade, seja ela no nível pessoal ou social. Se apenas repetimos, não somos autores. Para seremos autores, precisamos ir além!
E é importante ir além, pois a Prova de Redação é responsável por metade de sua nota no ENEM! O seu desempenho na construção de um texto vale mais do que o seu desempenho em qualquer outra disciplina, por isso a importância de desenvolver a sua capacidade de escrita. O grande segredo que queremos compartilhar com vocês, não é segredo algum, mas não é suficientemente destacado nos materiais convencionais de Redação, pois não agrada muito aos ouvidos da maioria.
O segredo é simples: Quando escrevemos, nós nos oferecemos ao leitor. Entregamos ao leitor tudo aquilo que nós somos, tudo aquilo que pensamos, compartilhamos a nossa visão de mundo. E quanto mais ricos de conteúdo, de reflexão, de perguntas, de leituras, de sentimentos, de argumentos nós formos, melhor será o nosso texto! Por isso existe uma relação direta entre a pessoa que somos, a forma como nos posicionamos no mundo, e a qualidade do nosso texto. Daí a necessidade do esforço, da busca, da transformação, do processo nem sempre fácil enxergar a realidade com outros óculos.
Introdução
Segundo Nélson Rodrigues, sem paixão não dá nem pra chupar um picolé. Pense nisso ao construir a introdução de seu texto! Pense em você, como leitor/a, que quando começa a ler algo de que não gosta das primeiras linhas ou das primeiras páginas deixa o texto de lado.
A introdução, em termos de construção de imagem textual, é o momento mais importante de uma redação. É nela que despertamos o interesse (ou o desinteresse) de nossos leitores.
O primeiro grande erro que muitos estudantes cometem ao escreverem seus textos é esquecer-se de que eles precisam apresentar seu texto ao corretor. Uma prova de redação avalia a capacidade de um candidato de construir textos e não de simplesmente responder a uma pergunta como se estivesse respondendo a uma questão dissertativa.
É necessário fazermos o exercício de imaginarmos que os corretores não sabem qual é o tema de nossa redação, é necessário que imaginemos que escolhemos aquele assunto por livre e espontânea vontade e que estamos escrevendo para uma revista ou para um jornal. Dessa forma, se os leitores não sabem qual é o objetivo de nosso texto, é necessário que apresentemos nossa redação. Daí a necessidade de construir uma introdução que tenha pelo menos três frases nas quais objetivamos não só dizer qual o propósito de nosso texto como o propósito de fazer o leitor se interessar por aquilo que ele está prestes a ler.
INTRODUÇÃO: O QUE EVITAR
1. Iniciar o texto partindo do pressuposto de que o leitor já sabe qual é o tema.
3. Construir um parágrafo demasiado curto que não apresente o tema de nosso texto e que não estimule a curiosidade do leitor.
2. Começar o texto com frases-clichê como: Na sociedade atual, Nos dias de hoje, No mundo de hoje, Hodiernamente,
Introdução e Tesão
Observe abaixo a introdução, simples e eficaz, do texto da candidata Marcela Araújo, da Bahia, que recebeu a nota 1.000 por seu texto na prova de 2016, cujo tema era intolerância religiosa.
No limiar do século XXI, a intolerância religiosa é um dos principais problemas que o Brasil foi convidado a administrar, combater e resolver. Por um lado, o país é laico e defende a liberdade ao culto e à crença religiosa. Por outro, as minorias que se distanciam do convencional se afundam em abismos cada vez mais profundos, cavados diariamente por opressores intolerantes.
A Construção do Argumento
A argumentação é a principal habilidade que precisamos desenvolver em contextos nos quais se faz necessário apresentarmos nossos posicionamentos. Um texto dissertativo é essencialmente um texto no qual um determinado autor ou autora propõe uma tese, compartilha as suas crenças, seus pensamentos e deixa claro porque acredita que suas ideias fazem sentido. Dessa forma, saber argumentar é uma das exigências mais importantes de uma dissertação.
Toda prova de redação apresenta uma situação problema, nos traz uma pergunta, nos convida a refletir. É esperado que o candidato se posicione diante dessa situação e que saiba defender seus posicionamentos. Uma ideia, uma crença, uma opinião só “param em pé” quando conseguimos defendê-las com argumentos consistentes.
Observem uma famosa frase do estadista britânico Winston Churchill:
“Seja otimista, não vale de muito ser qualquer outra coisa”.
Podemos pensar que a ideia central de seu dizer é que sejamos otimistas. Para defender isso, ele afirma que não valeria ser qualquer outra coisa, como ser pessimista, por exemplo. Então, temos um conjunto essencial para construirmos um texto que se propõe a colocar as ideias de um autor ou autora:
IDEIA (Seja otimista)
+
ARGUMENTAÇÃO (Não vale de muito ser qualquer outra coisa)
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A Construção do Argumento
Aprender a argumentar pode não ocorrer de forma espontânea para a maioria das pessoas, por isso é essencial a prática. A prática da leitura de textos que tenham a argumentação como base bem como a prática da escrita de redação focada em construir bons argumentos.
No nível teórico é importante, no entanto, que vocês tenham em mente a importância de ser capaz de defender as ideias que serão colocadas na Redação. O exemplo da frase de Churchill pode ajudá-los no sentido de perceber que, como diz o filósofo Stephen Toulmin, um bom argumento é como um organismo: ele tem uma estrutura bruta.
Para aqueles que têm dificuldade em construir uma argumentação, talvez possa ajudar se vocês construírem cada parágrafo do desenvolvimento do texto ao redor de uma ideia central. Dessa forma, o parágrafo será pensado a partir de uma ideia norteadora - desenvolvida em algumas frases - seguida de sua subsequente argumentação.
Cabe entender que o parágrafo é uma unidade de sentido e ter consciência de que cada parágrafo pode apresentar uma ideia central.
Uma vez entendido que as ideias colocadas em uma redação precisam ser defendidas é importante saber que podemos nos utilizar de uma série de recursos para argumentar:
• fatos; • dados estatísticos; • exemplos de filmes, livros ou outras narrativas; • reflexões a partir de outras áreas do conhecimento; • pensamentos/ideias de outros autores mobilizadas para o contexto de nossa ideia; • experiências pessoais;
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A Construção do Argumento
Outro fator bastante importante para garantir uma redação de alta qualidade é estar atento à qualidade dos argumentos. Muitas redações se utilizam ou de argumentos de senso comum ou de argumentos facilmente rebatidos, o que prejudica o texto. Uma dica importante referente a essa questão é sempre analisar o nosso argumento se perguntando: quais seriam as possibilidades de meu argumento ser rebatido?
É importante, ao escrever objetivando a redação nota 1.000, ter em mente um leitor ou uma leitora inteligentes e perceber que precisamos convencer uma pessoa com conhecimentos fora da esfera do senso comum de que nossas ideias são válidas.
Pensemos, por exemplo, em um tema de redação como a descriminalização do aborto. Essa temática já foi bastante debatida e, especialmente em uma sociedade como a nossa, na qual temos acesso a diferentes mídias, a diferentes jornais e a textos com posicionamentos os mais diversos, é preciso levar em conta que certas construções argumentativas seriam muito fáceis de serem rebatidas. Imaginemos um parágrafo inteiro dedicado a se posicionar no sentido de que descriminalizar o aborto seria um atentado à vida. Ora, nada mais fácil do que nos perguntarmos: atentado à vida de quem? Todos temos acesso à informação de que, mesmo ilegalmente, um número alto de mulheres realizam abortos e que justamente pela ilegalidade as condições desse procedimento levam milhares de mulheres à óbito. Se você quiser manter o seu argumento de atentado à vida do feto não há problemas, mas será preciso levar em conta esse contra-argumento e respondê-lo, pois qualquer leitor crítico tem isso em mente. São as informações que mobilizamos, os conhecimentos que trazemos e as reflexões que tecemos o que irão tornar a nossa argumentação de alto nível. A maior parte das redações peca pela falta de conteúdo. É muito comum lermos redações que são bem estruturadas em termos de forma, que possuem os nexos coesivos adequados, que se utilizam de vocabulário complexo, mas que deixam muito a desejar naquilo que se refere ao conteúdo. Por isso, para tecer bons argumentos, é essencial construir uma redação interdisciplinar. Ou seja, acessar diversas áreas do conhecimento para pensar o tema proposto.
A Proposta de Intervenção
Toda a redação do ENEM traz uma exigência que já é marca registrada desta prova. O Exame Nacional do Ensino Médio pede que os estudantes, em seus textos, construam uma solução para uma problemática social sempre apresentada, direta ou indiretamente, nos temas. De forma geral, a resolução de uma questão dessa ordem é associada à conclusão. E não há problema que seja, faz bastante sentido propôr uma intervenção dessa ordem depois de dedicarmos todo o texto a construir uma reflexão sobre o tema central.
No entanto, cabe lembrar que a elaboração de um proposta de intervenção é imprescindível para garantir um alto desempenho em sua redação. Há uma competência específica - das cinco competências exigidas dos candidatos - para avaliar esse aspecto. A falta de uma resolução para o problema social apresentado no tema ou uma resolução mal formulada pode fazer com que o candidato perca até 200 pontos em sua nota.
Considerando a importância dessa etapa da redação, é imprescindível que vocês se dediquem, em seus textos, a elaborar essa proposta. É necessário, no mínimo, utilizar um parágrafo inteiro para pensar, para resolver, para trazer sugestões abrangentes de melhoria do quadro social solicitado.
Da mesma forma que na introdução, nessa etapa do texto é essencial evitar os clichês de conclusão ou os já famosos clichês de proposta de intervenção.
São exemplos desses clichês frases como: é preciso que a população se conscientize de que; é preciso que sejam feitas palestras em escolas; é preciso que o Governo crie propagandas obrigatórias;
Além de essas sugestões serem extremamente utilizadas, elas não são nada eficazes e são bastante genéricas, demonstrando, na verdade, a incapacidade de os candidatos pensarem de forma abrangente sobre as questões sociais.
A Proposta de Intervenção
Observe abaixo a proposta de intervenção construída na redação da mesma candidata citada anteriormente para a proposta do ENEM 2016. Observe que antes do parágrafo conclusivo dedicado a trazer sugestões de como o problema da intolerância religiosa pode ser resolvido, a autora constrói um parágrafo que já introduz a própria sugestão de resolução.
Parafraseando o sociólogo Zygmun Bauman, enquanto houver quem alimente a intolerância religiosa, haverá quem defenda a discriminação. Tomando como norte a máxima do autor, para combater a intolerância religiosa no Brasil são necessárias alternativas concretas que tenham como protagonistas a tríade Estado, escola e mídia.
O Estado, por seu caráter socializante e abarcativo deverá promover políticas públicas que visem garantir uma maior autonomia religiosa e através dos 3 poderes deverá garantir, efetivamente, a liberdade de culto e proteção; a escola, formadora de caráter, deverá incluir matérias como religião em todos os anos da vida escolar; a mídia, quarto poder, deverá veicular campanhas de diversidade religiosa e respeito às diferenças. Somente assim, tirando as pedras do meio do caminho, construir-se-á um Brasil mais tolerante.
A inclusão obrigatória de uma Prova de Redação nos exames vestibulares no Brasil se deu em fevereiro de 1977 a partir de um Decreto-Lei. Jornais e revistas passaram a acusar a maneira insatisfatória como a Língua Portuguesa era ensinada nas escolas e, também, a forma como os vestibulares selecionavam candidatos, através exclusivamente de questões de múltipla escolha. Era dito, com ironia, que as provas de seleção testavam apenas a capacidade de os estudantes “fazerem cruzinhas”.
É claro que essa ironia não é totalmente verdadeira, mas faz pensar. Nos faz pensar que a capacidade de expressão escrita dos jovens não estava sendo valorizada na entrada em uma universidade e nos faz pensar que aos jovens e outros candidatos só era solicitado que repetissem conteúdos. Sabemos que estudar as diversas áreas do conhecimento pode ser uma prática essencial para o nosso desenvolvimento, no entanto quando estamos diante de uma folha em branco que nos convida a sermos autores e autoras, temos a possibilidade da autonomia, temos a possibilidade de demonstrar a forma como nos posicionamos diante da realidade.
Nesse sentido, é preciso, para fazer uma Redação Nota 1.000, pensar além de uma caixa bem específica. Qual caixa? Aquela caixa que nos faz estudar apenas para um fim unicamente objetivo: tirar uma nota alta em uma prova, passar no Vestibular ou no ENEM, ganhar o diploma em uma Universidade, buscar um salário alto. Quando pensamos dessa forma, em geral, estamos apenas dispostos a decorar um determinado conteúdo que será repetido em uma prova, no entanto não aplicamos esse conhecimento em nossas vidas, não agimos a partir dele, não nos interessamos de fato por ele a ponto de usá-lo para ter uma postura diferente no mundo em que vivemos, a ponto de nos posicionarmos ativamente diante da realidade, seja ela no nível pessoal ou social. Se apenas repetimos, não somos autores. Para seremos autores, precisamos ir além!
E é importante ir além, pois a Prova de Redação é responsável por metade de sua nota no ENEM! O seu desempenho na construção de um texto vale mais do que o seu desempenho em qualquer outra disciplina, por isso a importância de desenvolver a sua capacidade de escrita. O grande segredo que queremos compartilhar com vocês, não é segredo algum, mas não é suficientemente destacado nos materiais convencionais de Redação, pois não agrada muito aos ouvidos da maioria.
O segredo é simples: Quando escrevemos, nós nos oferecemos ao leitor. Entregamos ao leitor tudo aquilo que nós somos, tudo aquilo que pensamos, compartilhamos a nossa visão de mundo. E quanto mais ricos de conteúdo, de reflexão, de perguntas, de leituras, de sentimentos, de argumentos nós formos, melhor será o nosso texto! Por isso existe uma relação direta entre a pessoa que somos, a forma como nos posicionamos no mundo, e a qualidade do nosso texto. Daí a necessidade do esforço, da busca, da transformação, do processo nem sempre fácil enxergar a realidade com outros óculos.
Introdução
Segundo Nélson Rodrigues, sem paixão não dá nem pra chupar um picolé. Pense nisso ao construir a introdução de seu texto! Pense em você, como leitor/a, que quando começa a ler algo de que não gosta das primeiras linhas ou das primeiras páginas deixa o texto de lado.
A introdução, em termos de construção de imagem textual, é o momento mais importante de uma redação. É nela que despertamos o interesse (ou o desinteresse) de nossos leitores.
O primeiro grande erro que muitos estudantes cometem ao escreverem seus textos é esquecer-se de que eles precisam apresentar seu texto ao corretor. Uma prova de redação avalia a capacidade de um candidato de construir textos e não de simplesmente responder a uma pergunta como se estivesse respondendo a uma questão dissertativa.
É necessário fazermos o exercício de imaginarmos que os corretores não sabem qual é o tema de nossa redação, é necessário que imaginemos que escolhemos aquele assunto por livre e espontânea vontade e que estamos escrevendo para uma revista ou para um jornal. Dessa forma, se os leitores não sabem qual é o objetivo de nosso texto, é necessário que apresentemos nossa redação. Daí a necessidade de construir uma introdução que tenha pelo menos três frases nas quais objetivamos não só dizer qual o propósito de nosso texto como o propósito de fazer o leitor se interessar por aquilo que ele está prestes a ler.
INTRODUÇÃO: O QUE EVITAR
1. Iniciar o texto partindo do pressuposto de que o leitor já sabe qual é o tema.
3. Construir um parágrafo demasiado curto que não apresente o tema de nosso texto e que não estimule a curiosidade do leitor.
2. Começar o texto com frases-clichê como: Na sociedade atual, Nos dias de hoje, No mundo de hoje, Hodiernamente,
Introdução e Tesão
Observe abaixo a introdução, simples e eficaz, do texto da candidata Marcela Araújo, da Bahia, que recebeu a nota 1.000 por seu texto na prova de 2016, cujo tema era intolerância religiosa.
No limiar do século XXI, a intolerância religiosa é um dos principais problemas que o Brasil foi convidado a administrar, combater e resolver. Por um lado, o país é laico e defende a liberdade ao culto e à crença religiosa. Por outro, as minorias que se distanciam do convencional se afundam em abismos cada vez mais profundos, cavados diariamente por opressores intolerantes.
A Construção do Argumento
A argumentação é a principal habilidade que precisamos desenvolver em contextos nos quais se faz necessário apresentarmos nossos posicionamentos. Um texto dissertativo é essencialmente um texto no qual um determinado autor ou autora propõe uma tese, compartilha as suas crenças, seus pensamentos e deixa claro porque acredita que suas ideias fazem sentido. Dessa forma, saber argumentar é uma das exigências mais importantes de uma dissertação.
Toda prova de redação apresenta uma situação problema, nos traz uma pergunta, nos convida a refletir. É esperado que o candidato se posicione diante dessa situação e que saiba defender seus posicionamentos. Uma ideia, uma crença, uma opinião só “param em pé” quando conseguimos defendê-las com argumentos consistentes.
Observem uma famosa frase do estadista britânico Winston Churchill:
“Seja otimista, não vale de muito ser qualquer outra coisa”.
Podemos pensar que a ideia central de seu dizer é que sejamos otimistas. Para defender isso, ele afirma que não valeria ser qualquer outra coisa, como ser pessimista, por exemplo. Então, temos um conjunto essencial para construirmos um texto que se propõe a colocar as ideias de um autor ou autora:
IDEIA (Seja otimista)
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ARGUMENTAÇÃO (Não vale de muito ser qualquer outra coisa)
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A Construção do Argumento
Aprender a argumentar pode não ocorrer de forma espontânea para a maioria das pessoas, por isso é essencial a prática. A prática da leitura de textos que tenham a argumentação como base bem como a prática da escrita de redação focada em construir bons argumentos.
No nível teórico é importante, no entanto, que vocês tenham em mente a importância de ser capaz de defender as ideias que serão colocadas na Redação. O exemplo da frase de Churchill pode ajudá-los no sentido de perceber que, como diz o filósofo Stephen Toulmin, um bom argumento é como um organismo: ele tem uma estrutura bruta.
Para aqueles que têm dificuldade em construir uma argumentação, talvez possa ajudar se vocês construírem cada parágrafo do desenvolvimento do texto ao redor de uma ideia central. Dessa forma, o parágrafo será pensado a partir de uma ideia norteadora - desenvolvida em algumas frases - seguida de sua subsequente argumentação.
Cabe entender que o parágrafo é uma unidade de sentido e ter consciência de que cada parágrafo pode apresentar uma ideia central.
Uma vez entendido que as ideias colocadas em uma redação precisam ser defendidas é importante saber que podemos nos utilizar de uma série de recursos para argumentar:
• fatos; • dados estatísticos; • exemplos de filmes, livros ou outras narrativas; • reflexões a partir de outras áreas do conhecimento; • pensamentos/ideias de outros autores mobilizadas para o contexto de nossa ideia; • experiências pessoais;
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A Construção do Argumento
Outro fator bastante importante para garantir uma redação de alta qualidade é estar atento à qualidade dos argumentos. Muitas redações se utilizam ou de argumentos de senso comum ou de argumentos facilmente rebatidos, o que prejudica o texto. Uma dica importante referente a essa questão é sempre analisar o nosso argumento se perguntando: quais seriam as possibilidades de meu argumento ser rebatido?
É importante, ao escrever objetivando a redação nota 1.000, ter em mente um leitor ou uma leitora inteligentes e perceber que precisamos convencer uma pessoa com conhecimentos fora da esfera do senso comum de que nossas ideias são válidas.
Pensemos, por exemplo, em um tema de redação como a descriminalização do aborto. Essa temática já foi bastante debatida e, especialmente em uma sociedade como a nossa, na qual temos acesso a diferentes mídias, a diferentes jornais e a textos com posicionamentos os mais diversos, é preciso levar em conta que certas construções argumentativas seriam muito fáceis de serem rebatidas. Imaginemos um parágrafo inteiro dedicado a se posicionar no sentido de que descriminalizar o aborto seria um atentado à vida. Ora, nada mais fácil do que nos perguntarmos: atentado à vida de quem? Todos temos acesso à informação de que, mesmo ilegalmente, um número alto de mulheres realizam abortos e que justamente pela ilegalidade as condições desse procedimento levam milhares de mulheres à óbito. Se você quiser manter o seu argumento de atentado à vida do feto não há problemas, mas será preciso levar em conta esse contra-argumento e respondê-lo, pois qualquer leitor crítico tem isso em mente. São as informações que mobilizamos, os conhecimentos que trazemos e as reflexões que tecemos o que irão tornar a nossa argumentação de alto nível. A maior parte das redações peca pela falta de conteúdo. É muito comum lermos redações que são bem estruturadas em termos de forma, que possuem os nexos coesivos adequados, que se utilizam de vocabulário complexo, mas que deixam muito a desejar naquilo que se refere ao conteúdo. Por isso, para tecer bons argumentos, é essencial construir uma redação interdisciplinar. Ou seja, acessar diversas áreas do conhecimento para pensar o tema proposto.
A Proposta de Intervenção
Toda a redação do ENEM traz uma exigência que já é marca registrada desta prova. O Exame Nacional do Ensino Médio pede que os estudantes, em seus textos, construam uma solução para uma problemática social sempre apresentada, direta ou indiretamente, nos temas. De forma geral, a resolução de uma questão dessa ordem é associada à conclusão. E não há problema que seja, faz bastante sentido propôr uma intervenção dessa ordem depois de dedicarmos todo o texto a construir uma reflexão sobre o tema central.
No entanto, cabe lembrar que a elaboração de um proposta de intervenção é imprescindível para garantir um alto desempenho em sua redação. Há uma competência específica - das cinco competências exigidas dos candidatos - para avaliar esse aspecto. A falta de uma resolução para o problema social apresentado no tema ou uma resolução mal formulada pode fazer com que o candidato perca até 200 pontos em sua nota.
Considerando a importância dessa etapa da redação, é imprescindível que vocês se dediquem, em seus textos, a elaborar essa proposta. É necessário, no mínimo, utilizar um parágrafo inteiro para pensar, para resolver, para trazer sugestões abrangentes de melhoria do quadro social solicitado.
Da mesma forma que na introdução, nessa etapa do texto é essencial evitar os clichês de conclusão ou os já famosos clichês de proposta de intervenção.
São exemplos desses clichês frases como: é preciso que a população se conscientize de que; é preciso que sejam feitas palestras em escolas; é preciso que o Governo crie propagandas obrigatórias;
Além de essas sugestões serem extremamente utilizadas, elas não são nada eficazes e são bastante genéricas, demonstrando, na verdade, a incapacidade de os candidatos pensarem de forma abrangente sobre as questões sociais.
A Proposta de Intervenção
Observe abaixo a proposta de intervenção construída na redação da mesma candidata citada anteriormente para a proposta do ENEM 2016. Observe que antes do parágrafo conclusivo dedicado a trazer sugestões de como o problema da intolerância religiosa pode ser resolvido, a autora constrói um parágrafo que já introduz a própria sugestão de resolução.
Parafraseando o sociólogo Zygmun Bauman, enquanto houver quem alimente a intolerância religiosa, haverá quem defenda a discriminação. Tomando como norte a máxima do autor, para combater a intolerância religiosa no Brasil são necessárias alternativas concretas que tenham como protagonistas a tríade Estado, escola e mídia.
O Estado, por seu caráter socializante e abarcativo deverá promover políticas públicas que visem garantir uma maior autonomia religiosa e através dos 3 poderes deverá garantir, efetivamente, a liberdade de culto e proteção; a escola, formadora de caráter, deverá incluir matérias como religião em todos os anos da vida escolar; a mídia, quarto poder, deverá veicular campanhas de diversidade religiosa e respeito às diferenças. Somente assim, tirando as pedras do meio do caminho, construir-se-á um Brasil mais tolerante.
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